
Confiança no futuro
Se os pais não arcam com as consequências de educar os filhos, como esperar que os filhos assumam as consequências dos próprios actos? Como esperar dias melhores? Como confiar no futuro? Muitas pessoas preocupadas consigo mesmas parecem desesperadas com as condições actuais do mundo. Há muitas razões para isso, mas, se esquecermos o mundo e nos voltarmos para nós mesmos, talvez achemos um caminho. Como contribuir com a minha família para que as coisas melhorem? Que posso fazer para diminuir a confusão?
O casal deve ter objectivos comuns, direccionar os esforços no mesmo rumo, aplicar os recursos em metas que garantam a sua sobrevivência. Deve decidir cooperativamente para o bem comum e aplicar o princípio da reciprocidade em cada decisão. Afinal, para quê casar se não for para a satisfação mútua de necessidades? Casar para frustrar um ao outro, para tentar transformar o outro num autómato, é uma fórmula certa para a solidão, a angústia, o pânico e a depressão.
Não existe uma área de consequências mais graves pela falta de interdependência do que a educação dos filhos. Os resultados dos conflitos do casal projectam-se nos filhos e caem sobre eles como estigmas que passam para as gerações seguintes. Ensinar os filhos a assumir responsabilidade pelos seus actos não é tarefa fácil. Exige que os pais estejam integrados e unidos. Isso significa que amadureceram e estão prontos para assumir uma tarefa mais nobre: a de contribuir para a continuidade da raça humana e colaborar com a qualidade da cultura em que vivem. O casal dá essa contribuição pela qualidade dos filhos que apresentam ao mundo.
As pesquisas mostram que interdependência é um capital social com muitas variáveis apontando para o bem final do indivíduo que dela participa. Dois volumes do American Psychologist, de Dezembro de 2002 e Novembro de 2003, trazem artigos chamando a atenção para o valor social da interdependência. No primeiro, L. H. Rogler sugere que “capital social e interdependência social são virtualmente equivalentes”. No segundo, D. W. Johnson analisa o capital social em termos de interdependência e sugere que os objectivos das pesquisas na área foram tentativas de explicar a competição e cooperação entre os indivíduos. Algumas lições podem ser tiradas desse estudo de Johnson:
1. O esforço para agir dentro de um contexto de cooperação apresenta maior perseverança na execução da tarefa. Além disso, o discernimento do indivíduo é mais claro e usa estratégias morais e mentais mais elevadas.
2. O relacionamento é mais positivo e o apoio social maior. Dentro de um ambiente de cooperação, há maior atracção entre os indivíduos. Eles gostam mais e há maior respeito mútuo.
3. A interdependência contribui para a saúde física e mental do indivíduo.
4. Um contexto de cooperação favorece o desenvolvimento de auto-estima, como a crença no valor pessoal, na capacidade, na competência como pessoa.
O casamento é um contexto social onde o casal exerce uma influência poderosa um sobre o outro. Se a relação for má, eles acabam por usar os filhos para se combaterem um ao outro e prejudicam todos à sua volta. É mais prudente uma relação cooperativa, visando a um alvo positivo comum. Assim, o esforço será mais recompensador, a compreensão mais valorizada e o discernimento mais objectivo. Numa moldura de cooperação, a vida é muito mais agradável, harmoniosa e pacífica. Logo, a qualidade de vida é mais satisfatória. Cria-se um ambiente ideal para os filhos aprenderem com os pais, imitá-los e identificarem-se com eles.
Para construir responsabilidade nos filhos, antes de pensar em punir, castigar, ser firme ou deixar arcar com as consequências, é necessário que o ambiente do lar seja de cooperação entre os pais, e não de competição. Trata-se de uma tarefa árdua, mas compensadora.
Por: Dr. Belisário Marques – Psicólogo
