Harmonia
Numa atitude optimista, gostaria de enfatizar que filhos responsáveis, hábeis para responder conforme a situação exige, crescem em lares cujos pais formam uma dupla harmonia. São pais unidos na tarefa de educar os filhos. Antes de iniciar a família, eles deixaram a independência rebelde da adolescência e compreenderam o valor da interdependência. Abandonaram os caprichos da dependência infantil e assumiram o ônus na condução da mutualidade matrimonial. O casal é uma aliança, uma união; não dividem, mas somam. Um não atira os desaires para as costas do outro, mas carregam juntos. Resumindo, o casal parte do paradigma de interdependência, um relacionamento de cooperação que integra o que se sente com o que se pensa e o que se faz.
Infelizmente, na hora da acção, a preguiça, o comodismo e o conforto pessoal falam mais alto, e as boas intenções batem nas exigências da realidade. É comum o pai omitir-se nos momentos em que a esposa mais precisa dele. Vem-me à mente um caso. A esposa estava a ter problemas em levar o filho à escola. Passava por muitas dúvidas quanto ao que fazer. Sentia culpa por colocar uma criança de três anos na escola. Gostaria de ter o filho em casa. Queria ser uma mãe que cuida do filho. Os seus conflitos iam e vinham. O filho sentiu o drama da mãe e começou a fazer chantagens na hora de ir para a escola. Recusava-se a vestir a roupa, a comer, a colaborar em qualquer sentido. A mãe desesperada recorreu ao marido, que simplesmente disse: “Não o posso levar à escola. Qual é o problema dele não ir à escola?” A mãe ficou ainda mais desolada, principalmente porque o pai era um profissional liberal e tinha horário flexível; só faltava boa vontade e compreensão para com o desespero dela, que também era profissional liberal. Sentir, pensar ou mesmo falhar é fácil, mas fazer pode ser difícil quando falta a noção de interdependência.
Toda a propaganda à nossa volta é de auto-suficiência, individualismo ou auto-afirmação. Fala-se muito mais de competição para subir do que para cooperar e ter qualidade de vida. Nada há contra a independência para administrar a própria vida, mas chega a um momento em que o indivíduo precisa de expandir para se relacionar com o outro. Quando se casa, a pessoa está a manifestar publicamente o desejo de se abrir para o outro. Deve ser um crescimento e não uma regressão. A estabilidade e a felicidade do casamento dependem de uma interdependência sadia.
É na educação dos filhos que está a maior prova de maturidade dos pais para abraçarem a causa. Afinal, a criança é o produto da relação do casal. Os dois participaram do processo. Uma vez gerado, o filho precisa de ser cuidado. Quanto mais bem cuidado, mais orgulho vai proporcionar aos que cuidaram dele.
Por: Dr. Belisário Marques – Psicólogo