18 de outubro foi escolhido o dia do médico em homenagem a São Lucas, padroeiro da medicina. São Lucas exercia a profissão de médico e também tinha vocação para a pintura. Escreveu o terceiro evangelho e o “Ato dos Apóstolos” da Bíblia Sagrada. Acredita-se que veio de família abastada pelo seu estilo literário. Nasceu na Turquia no século I, quando ainda se chamava Antioquia. Discípulo de São Paulo, o seguiu em missão, sendo chamado por ele de “colaborador” e “médico amado”.
Em homenagem a data, entrevistamos alguns médicos:
O cirurgião plástico, Dr. Eduardo Lintz, O ginecologista e cirurgião geral Dr. Ramiro Gialuisi, O urologista e
diretor médico da Casa de Saúde São José, Dr. Eduardo Gouvêa e o Dr. Alexandre C. do Amaral – Diretor Médico do Centro Multidisciplinar da Dor (C.M.D).
Há quanto tempo exercem a medicina e o que ela lhes proporcionou neste período?
Dr. Alexandre Amaral: Exerço a medicina de maneira integral há doze anos. Isto significa que sou médico 24 horas por dia. A medicina me proporcionou o prazer de ajudar as pessoas, salvar vidas e ver que meu esforço pessoal se transformou num grande benefício. É uma grande satisfação ver o sorriso no rosto de meu paciente ao ser curado ou mesmo aliviado daquilo que o afetava. Este é um prazer inenarrável.
Dr. Eduardo Gouvêa: Eu me formei em 1971. Portanto, exerço a Medicina há quase 33 anos. Nesse tempo todo de trabalho, eu, como a maioria dos médicos que trabalha com seriedade e dedicação, devo quase tudo à Medicina, desde grandes alegrias até alguns dissabores.
Dr. Eduardo Lintz: Formei-me em 1995 e o que a medicina mais me proporcionou, e me proporciona, é a satisfação e realização profissionais que torneiam minha realidade.
Dr. Ramiro Gialuisi: São 40 anos de profissão, completados no ano que vem. A medicina me proporciona o que eu consigo proporcionar aos meus pacientes, que é a cura e amenizar o seu sofrimento. A medicina é a satisfação pela solução dos problemas das pessoas.
Como conseguiram conciliar a vida pessoal com a profissional?
Dr. Amaral: Na realidade, deveria responder esta pergunta com um sonoro “Não consigo”. Nunca consegui conciliar ou mesmo separar estas duas vidas. Exercendo a medicina 24 horas por dia, não se consegue separar a vida pessoal da profissional, e isto se deve ao tipo de envolvimento que tenho com minha profissão. Tenho um caso de amor com a medicina.
Dr. Gouvêa: Quando se ama aquilo que se faz e se trabalha com alegria, é fácil conciliar, pois até sua mulher e seus filhos passam a se orgulhar da sua profissão. É claro que alguns interesses acabam sendo comprometidos, mas nada que não possa ser compensado depois.
Dr. Lintz: Sem dúvida, quando fazemos o que gostamos fica tudo mais fácil. Acredito que pode-se conciliar perfeitamente a vida pessoal e a profissional, desde que o bom senso prevaleça.
Dr. Gialuisi: Apesar de correr de um lado para o outro, eu não prejudicava a minha vida social. No início da carreira, eu trabalhava em cinco lugares diferentes. Dava plantão no Hospital Miguel Couto (Rio de Janeiro), INPS, consultórios e, também, cheguei a trabalhar no clube Botafogo de Futebol e Regatas. Formei-me com 23, 24 anos de idade, cheio de energia nessa época. Aos 30 anos, estava em três empregos. Hoje, atendo em um hospital e no consultório. Estou no segundo casamento, me sinto realizado e feliz.
Houve algum acontecimento especial em suas vidas ao qual não puderam estar presentes por causa do trabalho?
Dr. Amaral: Muitos, desde o simples convívio com a minha família em almoços de domingo até a reclusão em escritórios para estudar. A medicina requer muito estudo e atualização. O ritmo das descobertas se acelera e o número de revistas médicas se avoluma e, a partir disto, torna-se imperioso dedicar horas de estudo em reclusão dentro de seu próprio lar. Este tipo de convívio que pareceria simples para maioria das pessoas, para mim já poderia se chamar um acontecimento muito especial. Entretanto, poderia citar uma noite de Natal, por exemplo. Já fui privado de algumas noites.
Dr. Gouvêa: Ocorreram diversas vezes, mas, como já disse, nada que não possa ser compensado depois.
Dr. Lintz: Não me recordo de ter deixado de viver algo especial por causa do trabalho. Evidentemente, não posso estar em todos os eventos que gostaria, porém com organização posso priorizar determinados momentos.
Dr. Gialuisi: Não, nenhuma data em especial. Claro, perdi festas e reuniões por causa do trabalho.
Como vocês avaliam o papel do médico atualmente?
Dr. Amaral: Infelizmente sou um pouco pessimista sobre o atual papel do médico em nossa sociedade. Acredito que houve um grande enfraquecimento na relação médico-paciente. Havia um enorme respeito de ambas as partes. Já houve época em que éramos confidentes, amigos e conselheiros, por vezes muito importantes na vida de um paciente e de toda sua família. Hoje, com a massificação do atendimento pelas seguradoras de saúde e com o empobrecimento do setor público, os médicos têm pouco tempo e com isso se torna desatento, perdendo os detalhes, as entrelinhas que muitas vezes são a chave de um diagnóstico. Perdemos o compromisso com aqueles pacientes e passamos a estar preocupados com as doenças que lhes afligem. Damos mais importância aos exames complementares que ao nosso próprio exame clínico. Devo reconhecer que era parte disto tudo e que foi um professor, ou mesmo um pai, que apontou o caminho e fez com que eu retomasse estes antigos ideais.
Dr. Gouvêa: O papel atual do médico é o mesmo de antes: evitar as doenças, curar sempre que possível e minimizar o sofrimento sempre.
Dr. Lintz: Um tanto quanto desvalorizado. Perdeu-se o mesmo respeito de outrora. Em que pesem as dificuldades atuais de atuação e oportunidades, o médico também sofre com o momento financeiro atual. Porém, acredito que o melhor modo de trabalharmos para uma realidade mais digna é atuarmos com determinação e respeito próprio e, principalmente, respeito ao paciente.
Dr. Gialuisi: Eu me mantenho fiel às coisas em que sempre acreditei na profissão. Hoje, diferentemente da minha época, o médico está deteriorado, se submete ao sistema, aos convênios. Os médicos, bem como as enfermeiras e os auxiliares, perderam o respeito que existia antigamente. As clínicas particulares praticamente desapareceram, pois aqueles que têm dinheiro pagam um plano de saúde.
Como era a graduação na época de vocês e como é hoje?
Dr. Amaral: Minha graduação ainda trazia a beleza do maior comprometimento com o paciente e não com a doença. O avanço tecnológico foi de tal forma que já se pode fazer diagnósticos cada vez mais celulares (precoces), que muitas vezes não apresentavam manifestação clínica. O fato é que a classe médica passou a acreditar mais nos exames ditos complementares que ao seu exame clínico. Conseqüentemente, estamos supervalorizando achados e tratando os resultados destes exames e não nossos pacientes. Volto a agradecer este professor citado anteriormente, que me fez estudar e com isto ter consciência do meu conhecimento médico e, a partir daí, dar o valor real aos exames que por definição são complementares.
Dr. Gouvêa: Acredito que na minha época de faculdade (não faz tanto tempo assim), a graduação se baseava muito em história, exame físico e conhecimento anatômico, já que os estudos de imagem e laboratório não eram tão avançados. Hoje, com as modernas técnicas que aparecem cada vez mais rápido, descuida-se um pouco do humanismo em função da tecnologia . Isto não quer dizer que a medicina tenha piorado, pelo contrário, melhorou muito, mas com certeza perdeu um pouco do romantismo. A grande vantagem nossa, dos mais antigos, é que podemos aliar as duas coisas e conseqüentemente somos muito mais felizes.
Dr. Lintz: Ingressei na universidade em 1990. O curso se desenvolvia em seis anos, o mesmo que hoje. O que mudou foi a estrutura de relação entre as especialidades e as áreas básicas como anatomia, histologia, bioquímica, fisiologia que hoje são associadas desde o início.
Dr. Gialuisi: Na minha época, o médico tinha aquela áurea, era respeitado. Hoje, não. O número de faculdades de medicina multiplicou e a qualidade do ensino ficou péssima.
Quais são os maiores inimigos da saúde no país?
Dr. Amaral: Os maiores inimigos são, em primeiro lugar, a política na medicina, ou seja, decisões políticas dentro da saúde deste país. Em segundo e último lugar, as empresas que desenvolvem tecnologia médica, escravizando os colegas menos avisados, em detrimento das experiências pessoais de cada médico.
Dr. Gouvêa: O grande problema da saúde no país é que ela não dá voto em curto prazo e é muito cara. Como os nossos políticos são muito apressados e o país é pobre, ela sempre é relegada a segundo plano. Essa combinação de pressa e pobreza é mortal para a saúde.
Dr. Lintz: De forma geral, a própria condição social e de educação. As dificuldades gerais da população se refletem nas dificuldades da saúde.
Dr. Gialuisi: A pobreza, que impede uma qualidade de vida satisfatória, o saneamento básico, a prevenção, a falência dos hospitais públicos e os comerciantes dos planos de saúde que nivelam a uma remuneração irreal, fazendo com que os médicos sejam obrigados a trabalhar por volume, por grande quantidade.
O que fazem nas horas de lazer?
Dr. Amaral: No momento tenho tido pouco tempo para o lazer, o meu trabalho me consome 24 horas por dia. Entretanto, ao contrário do que dizem os especialistas em qualidade de vida, encontro lazer em coisas simples que me dão prazer, como ler um bom livro.
Dr. Gouvêa: Nas horas de lazer faço o que todo mundo deve fazer, me divirto com a minha família e, quando posso, viajo.
Dr. Lintz: Leio, pratico esportes e fico com a família e amigos.
Dr. Gialuisi: Eu faço atividade física desde adolescente, musculação e cooper na praia. Gosto de tirar fotografias e de ouvir uma boa música. Um engenheiro construiu um estúdio na minha casa e eu fico até de madrugada escutando música.
Qual é o maior desafio da vida? E a recompensa?
Dr. Amaral: Especialmente para mim, que milito no tratamento de dores crônicas de difícil controle, seria conseguir encontrar a fórmula para erradicar a dor, que tanto atinge nossa população. E a recompensa seria poder aplicar esta fórmula a fim de erradicar este sofrimento.
Dr. Gouvêa: O maior desafio é não errar nunca. E a recompensa é saber que acertou a maioria das vezes.
Dr. Lintz: Acredito que o desafio da vida é ter realizações, manter o respeito a si próprio e ao próximo, buscando deixar bons exemplos e aprender a cada dia.
Dr. Gialuisi: A minha vida foi estável até o falecimento do meu pai, quando eu tinha 16 anos. Nesta época, mamãe tinha sete filhos e minha irmã menor não tinha nem um ano. Eu sempre quis ser médico e com 10 anos de idade, já abria barriga de sapo e costurava com fita adesiva. Com a morte de meu pai, lancei um desafio a mim próprio: me formar aos 23 anos, sem repetir um período na faculdade. E esta foi a minha recompensa. Além de me formar na idade certa, pude ter uma vida mais tranqüila e comprar um carro e a casa própria com o meu salário.
Qual é a grande lição que a profissão lhes proporcionou?
Dr. Amaral: A grande, a maior das lições é que tratamos pessoas e não doenças.
Dr. Gouvêa: No dia que eu achar que a profissão já me proporcionou a maior lição, é sinal de que acho que não tenho mais nada de importante a aprender e, daí então, é melhor parar.
Dr. Lintz: Que a dor do ser humano não deve nunca ser menosprezada. Que a dor pode extrapolar o próprio entendimento humano, mas que se deve sempre ter a certeza de ter feito o melhor possível. Que possamos ter sempre Deus ao nosso lado, entendendo que sua ajuda e orientação são o que de mais importante existe em nossa existência.
Dr. Gialuisi: Ser ético na profissão, mesmo sem ganhar dinheiro e sem pensar nos honorários, me proporciona, a cada dia, o reconhecimento do paciente. Para mim, essa é a maior satisfação e a maior lição.
Informações parciais. Confira o texto na íntegra, acessando o site: http://www.saude.com.br